Sucessão é um daqueles temas que todo mundo sabe que precisa enfrentar — mas poucos têm coragem de tratar a tempo. Nas empresas familiares, especialmente, ela costuma ser adiada até que o tempo cobre sua fatura. E aí, o que poderia ter sido uma transição natural se transforma num improviso carregado de tensão, silêncios e expectativas frustradas.

A sucessão começa muito antes da escolha de um nome. Ela se inicia no espaço dado para que o outro possa crescer. Começa na preparação, no acompanhamento, na escuta. Porque ninguém se torna sucessor de um dia para o outro. É um processo que exige convivência, confiança e, acima de tudo, desprendimento.

Numa empresa familiar, por exemplo, o fundador precisa se reposicionar. Precisa sair de cena aos poucos, sem desaparecer, mas abrindo espaço para que o novo possa ocupar seu lugar com legitimidade. Isso é delicado. Porque envolve vaidade, memória, pertencimento e medo. Medo de ser esquecido, de ser substituído, de ver o próprio legado mal conduzido.

Mas o maior risco não está em passar o bastão. Está em não passá-lo a tempo. Está em adiar o necessário. Está em apostar que a saúde vai durar, que o contexto será o mesmo, que o outro “ainda não está pronto”. Porque às vezes ele não está mesmo — justamente porque nunca teve a chance de estar.

Sucessão de verdade é feita na convivência. Não é sobre herdar um cargo, mas sobre conquistar confiança. É sobre aprender com o tempo. É sobre errar ainda sob o olhar de quem fundou. É sobre encontrar o seu próprio jeito de liderar, sem precisar apagar a história de quem veio antes.

No fim das contas, sucessão não é sobre sair. É sobre permitir que outros possam entrar — com preparo, com responsabilidade, com liberdade para criar. Isso, mais do que um plano, é um gesto de confiança no futuro. E um ato de grandeza de quem escolhe não ser eterno, mas ser ponte.

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